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Sobre o projecto

A crise pandémica actual expôs as fragilidades da nossa era globalizada e fortemente influenciada pelas plataformas de social media e em que o negacionismo da ciência e o populismo têm efeitos negativos na sociedade e na democracia. Matrix visa estudar os links entre as atitudes populistas e de negacionismo da ciência e os seus determinantes. O populismo assenta na crença dupla de que o senso comum do povo é superior aos processos de decisão das elites e que as várias elites que tomam as decisões estão desconectadas do povo ou só se importam com os seus próprios interesses. Logo, se existem fortes sentimentos populistas na população é muito provável que exista também um elevado grau de desconfiança das elites. 

Matrix assume que a pandemia Covid-19 é excepcional não só pelo seu efeito societal sem precedentes, mas também por expôr claramente os potenciais perigos de rejeitar as provas científicas e os cientistas. A natureza da crise reforçou a importância dos experts e da ciência em geral, o que poderá assim contrariar o aumento recente de atitudes populistas e negacionistas da ciência, que têm sido normalizadas muito devido aos social media. Sabemos que o populismo pode prejudicar a ciência, mas pode a ciência prejudicar o populismo, ou pelo menos algumas das suas formas actuais? Matrix visa compreender os mecanismos de processamento da informação que os indivíduos usam para justificar a aceitação ou rejeição de recomendações da ciência em tempos de incerteza causada por uma crise pandémica global.

O projecto Matrix foca-se nas dimensões de anti-elitismo, antiestabelecimento e anti-intelectualismo do populismo. O negacionismo está relacionado com atitudes face à ciência e é substanciado em algumas narrativas e atitudes populistas, e.g. o negacionismo das alterações climáticas ou da crise pandémica pelos populistas de extrema direita; contudo, até ao momento o negacionismo não foi integrado nos repertórios existentes de atitudes populistas. É, por isso, necessário investigar se o negacionismo é uma atitude que combinada com outras dimensões de populismo resulta em formas específicas de populismo (e.g. extrema direita ou direita radical), ou se pode ser concebido como uma característica constitutiva de populismo em si. Há semelhanças confirmadas entre os mecanismos de processamento de informação de ambas as atitudes populistas e negacionistas, e.g. um misto de atenção selectiva e viés de confirmação juntamente com a construção de narrativas tranquilizadoras que simplificam os problemas.

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